
Os silêncios pingando pela goela, intermitentes, deslizando pelo esófago, acocorando-se sobre destino. Estou de cócoras, não estás nada. Pausa. Silêncio pontiagudo.
Um dia quando acordar pela manhã e o lume da noite ainda estiver quente; uma manhã enroscada sobre a copa dos jacarandás. No feltro dos lábios desabado. Uma manhã. Estremecer. De que cor queres os lábios. Da cor dos jacarandás.
Tenho lido Rimbeaud; depois apetece-me ficar a olhar ao espelho. E vou pronunciando embriagado a palavra dechifrer, e por vezes digo chiffon, ou Lamartine, o inoportuno autor do verso estanque – j’ais un univers mort dans ma gueule.
E pronuncias lentamente. Pronuncio tudo lentamente. Ouço o piano ensurdecedor. Repito incessantemente a homage a Rameau, o próprio silêncio é luminoso. E o que vês ao espelho.
A própria imagem perde-se e atinjo a fundura do acto de me ver ao espelho como se me pudesse ver verdadeiramente; sem duvidar do acto que o que vejo é o que sou. Je fonce sur le mirroir. Do outro lado estás tu. Estou lá à espera. Sempre receei a amputação.
Um dia quando as mãos súbitas desenroscarem o casquilho dos corpos amanhecidos; e os olhos se soltarem da dormência do amor fermentado. O amor à base de glicose. Sim; o açúcar cozido à pele como um verso dócil na madrugada. Tens desses versos. Não; apenas silêncio. Silêncio contaminando o útero. Então é um para agora e outro para levar.
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