A sagração da primavera de Stravinsky é reconhecida como o marco primordial da subjugação da melodia ao ritmo. Este ballet em dois actos encomendado por Diaghilev e estreado em 1913, desvendou um novo mundo à música com a sua sumptuosidade rítmica, repleta de dissonâncias ferozes entre momentos de celebração extrema e o cansaço moribundo do sacrifício.
A sagração para além de servir de farol para as obras seguintes, é majestosa e imponente. A orquestração necessária é colossal e gerou espanto absoluto na época. Para a executar são necessários mais vinte instrumentos do que numa orquestra normal, a maior parte dos quais são instrumentos de sopro, dos quais oito são trompas; a orquestração é talvez apenas comparável à 2ª Sinfonia de Malher (a ressurreição) que exige dez trompas e que foi executada este ano nos proms.
Esta prevalência dos metais torna a música incisiva e saliente, mesmo nos andamentos mais harmónicos; por vezes apenas uma distonia melódica de cordas é audível, mas contendo sempre harmonias sobrepostas, alternando-se, completando-se, até ao limite de uma fuga atonal.
A sagração evoca uma festa pagã contendo rituais primitivos; a celebração dentro do contexto ecuménico desaparece e com ela a ritualidade da melodia celestial. A sagração não possui nada de celestial; é mesmo a última coisa que se pode esperar ouvir dentro de qualquer contexto religioso; o único episódio religioso digno da sagração é o dia do juízo final. Ou a fantasia da Disney, que utilizou trechos da obra.
A sagração insere-se num contexto de distorção e exagero. Ao mesmo tempo o movimento surrealista expande o legado impressionista, violentando a geometria e as regras espaciais. Les Demoiselles d’Avignon é pintado em 1907 e o cubismo surge como um frémito há muito receado. Stravinsky e Picasso conheceram-se aliás em 1917; um ano mais tarde Picasso casa-se com uma bailarina dos ballets russes, a mesma companhia que encomendara a sagração.
É um admirável mundo novo que se apresenta; tudo o que se encontrava definido e assimilado desmorona-se. A pintura, a música, a política, a física (Einstein ganha o prémio Nobel em 1920). Tudo ao som de Stravinsky e Debussy. E imagino que a história chegou a fim com a tecnologia sinfónica disponível.
Passado trinta anos, a invenção da guitarra eléctrica criaria um novo paradigma. E mais tarde os samplers, um outro diferente; Mas numa escala obtusamente mais diminuta. A história da música terá terminado por volta de 1913.
A sagração para além de servir de farol para as obras seguintes, é majestosa e imponente. A orquestração necessária é colossal e gerou espanto absoluto na época. Para a executar são necessários mais vinte instrumentos do que numa orquestra normal, a maior parte dos quais são instrumentos de sopro, dos quais oito são trompas; a orquestração é talvez apenas comparável à 2ª Sinfonia de Malher (a ressurreição) que exige dez trompas e que foi executada este ano nos proms.
Esta prevalência dos metais torna a música incisiva e saliente, mesmo nos andamentos mais harmónicos; por vezes apenas uma distonia melódica de cordas é audível, mas contendo sempre harmonias sobrepostas, alternando-se, completando-se, até ao limite de uma fuga atonal.
A sagração evoca uma festa pagã contendo rituais primitivos; a celebração dentro do contexto ecuménico desaparece e com ela a ritualidade da melodia celestial. A sagração não possui nada de celestial; é mesmo a última coisa que se pode esperar ouvir dentro de qualquer contexto religioso; o único episódio religioso digno da sagração é o dia do juízo final. Ou a fantasia da Disney, que utilizou trechos da obra.
A sagração insere-se num contexto de distorção e exagero. Ao mesmo tempo o movimento surrealista expande o legado impressionista, violentando a geometria e as regras espaciais. Les Demoiselles d’Avignon é pintado em 1907 e o cubismo surge como um frémito há muito receado. Stravinsky e Picasso conheceram-se aliás em 1917; um ano mais tarde Picasso casa-se com uma bailarina dos ballets russes, a mesma companhia que encomendara a sagração.
É um admirável mundo novo que se apresenta; tudo o que se encontrava definido e assimilado desmorona-se. A pintura, a música, a política, a física (Einstein ganha o prémio Nobel em 1920). Tudo ao som de Stravinsky e Debussy. E imagino que a história chegou a fim com a tecnologia sinfónica disponível.
Passado trinta anos, a invenção da guitarra eléctrica criaria um novo paradigma. E mais tarde os samplers, um outro diferente; Mas numa escala obtusamente mais diminuta. A história da música terá terminado por volta de 1913.
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