Friday, February 23, 2007

Sin (Ai + X)

A sinusóide por aqui perdida, meio lombriga, meio conjunto de agrafes em magnética consolidação. A sinusóide que é analítica na forma, mas sem equação de movimento. Nunca como agora entendi aquela teimosia aguerrida em devorar o Crime e Castigo; e devorar vodka requentado pela manhã.
Em tempos criei uma escala que media a melancolia. A palavra só de si é tão bonita que merecia um aparelho de medição: era o melancoliómetro. Arrumei-o a semana passada; o mercúrio das suas veias tinha congelado.
A sinusóide é pior que um parasita. O parasita ao menos precisa de um hospedeiro – e alimenta-se dele a níveis que o permita sobreviver. A sinusóide não; a sinusóide é o próprio hospedeiro na sua duplicidade de molusco. Eu sou eu mais a minha sinusóide voluptuosa.
Há pessoas que não sabem fazer sinusóides; não é o meu caso. Conheço o Seno desde miúdo. Desde sempre que o senti como o trilho triturado, o mecanismo de sequência dos gestos – os gestos arrepiados ao instante.
Se a melancolia fosse uma distribuição estatística era a uniforme. Uma variável aleatória ponderada, constante, líquida. Entre ela e esta sinusóide radioactiva, um vazio sensitivo desmerecido.

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