Wednesday, May 02, 2007

Ouvindo Malher pela manhã

Ouvindo Malher pela manhã. O Adagietto que é o ronronar de uma mulher adormecida sobre a praia. A pele salpicada de areia e os cabelos inundados de mar. Malher pela manhã. Consigo ver a falésia íngreme e tostada de um laranja como couro; e avisto os homens lá em cima com longas túnicas turquesa encarando o vento tépido com os braços bem erguidos. Uma fila interminável de homens que se perdem de vista no topo da falésia; em baixo, uma mulher fervendo um choramingar de lágrimas em parafusos, apertando a carne da areia; apertando-a, esmigalhando as migalhas do silêncio. Ao fundo, a quinta e o Adagietto. A expectativa da exaltação, tão própria da celebração da despedida e daí, também do reencontro. As cordas irrompendo dos seus poços de madeira e prolongando-se pela memória cerrada, ecoando, deslizando, sobrevivendo. Malher pela manhã e vocábulos desordenados sobre a epiderme ao longo da noite, e pelo o que restou da eternidade.

3 comments:

João Tomaz said...

Eh pá, se, em vez de Malher, tivesse sido Bach, esgotavas o dicionário! :)

Parcídio Matos said...

Eis o que lavra um ser imune à poesia...

Anonymous said...

Tip: Gustav Mahler